24 de maio de 2007

Aeroporto de anedOTA


Esta questão do novo aeroporto de Lisboa, que o Governo pretende construir na Ota, confesso que já chateia e que há manipulação a mais. Ora vejamos, segundo os detractores da Ota, e por conseguinte defensores da construção do aeroporto na margem sul do Tejo, a construção do aeroporto custará muito mais do que na margem sul; que na Ota os interesses e a especulação imobiliários são mais que muitos; que na Ota o aeroporto tem um período muito curto de vida útil, sem hipóteses de expansão; que na margem sul esses problemas não se põem. Chegados aqui, pergunta-se:

  1. Na margem sul não há interesses de nenhuma ordem? Aqueles que pugnam para que o aeroporto seja na margem sul são todos "gente boa", sem mácula?
  2. Se por hipótese, o governo decidisse que o aeroporto ia ser construído na margem sul, já podíamos dormir descansados? A obra seria exemplo para o mundo: "a obra perfeita". Seria colocada uma placa para as gerações vindouras com a seguinte inscrição: "pela tenacidade de uns, o bem de todos".

Os portugueses adoram ser manipulados. Em todas as obras públicas existem interesses? Claro que existem. E existirão. Só que os interesses directos de alguns terão que corresponder aos interesses indirectos da maioria.

No meio desta algazarra, há quem defenda que Lisboa nem precisa de um novo aeroporto. O que demonstra um desconhecimento atroz de como se processa o transporte aéreo. Só mesmo quem não viaja de avião e não conhece o aeroporto da Portela pode dizer isso. Daí não ser estranho que a maioria dos entrevistados numa sondagem tenha afirmado que Lisboa não precisava de um novo aeroporto. Esperemos é que a Portela aguente até 2017, o que dado o aumento quase exponencial do tráfego vai ser praticamente impossível sem que se faça uso subsidiário de pistas como Alverca ou Montijo.

Eu pessoalmente, como resido perto da Ota, e numa posição egoísta, também gostaria que ele fosse para a margem sul. Para quem reside na zona os potenciais prejuízos serão superiores aos potenciais lucros. Mas não sou míope a esse ponto. Se a Ota for o melhor para o país, então que se faça. Para que se saiba não tenho interesses imobiliários ou outros, directos ou indirectos, na região. Só que tento ver as coisas desapaixonadamente.

Agora os argumentos, para a construção do aeroporto na Ota, não se podem basear no que disse Almeida Santos, de que era melhor na Ota por causa de possíveis atentados terroristas às pontes que ligam as margens norte e sul do Tejo. É de uma falta de tacto confragedora, chega a ser doloroso ouvir. Não me admirava que esse argumento viesse do homem da rua, mas de um homem que foi Presidente da Assembleia da República e que se move nos meadros do poder, é de bradar aos céus.

Já os argumentos do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, embora exagerados, não deixam de ser atendíveis. Não basta a construção do aeroporto em si, mas tudo o que está para além dele e que é vital para a sua sobrevivência. Nesse aspecto só um cego é que não vê que a norte de Lisboa as infraestruturas extra-aeroporto existentes são de longe superiores às existentes a sul da capital.

Mas como o folclore político vive de soundbytes, o ministro das Obras Públicas e Almeida Santos lá fizeram a sua contribuição e assim não se discute aquilo que verdadeiramente interessa a este país cada vez mais desgraçado.

1 comentário:

CA disse...

Mas um aeroporto precisa sobretudo de espaço para instalações e não de populações muito perto. Menos precisa ainda de elevações do terreno que dificultem a aviação. Também não interessa um aeroporto com custos tão elevados que obriguem a taxas mais elevadas do que os outros aeroportos da região.