27 de setembro de 2007

Habituem-se

Pedro Santana Lopes ao recusar-se a prosseguir a entrevista à SIC-Notícias, depois de ser interrompido para se ver a chegada de José Mourinho ao aeroporto de Lisboa, mostrou que é assim que se tratam os rapazolas aprendizes de jornalismo.
A reacção da SIC-Notícias à acção de Pedro Santana Lopes só mostra a porcaria que querem à viva força que o povo consuma.
Pedro Santana Lopes mostrou fibra e carácter e sobretudo que não é mal educado nem arrogante. Parabéns.
Não sei porquê, à medida que se observa o que vai pelo interior do PSD e José Sócrates pelas suas acções e comportamentos, ou a falta destes, mostra de que é feito, mais Pedro Santana Lopes, o homem, se eleva.

21 de setembro de 2007

Lágrimas de sangue

O Primeiro-Ministro do Reino Unido, Gordon Brown, tem uma predilecção por tudo o que é português: ora intromete-se no caso McCann, ora opina sobre José Mourinho, ora diz que se o facínora do Zimbabué, Robert Mugabe, vier a Lisboa para a cimeira União Europeia-África, ele não estará presente. E neste último ponto está coberto de razão.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que a cada dia que passa vai mostrando a sua altivez e arrogância, diz que ainda não foram enviados convites aos dirigentes africanos para se deslocarem a Lisboa, em Dezembro próximo. No entanto a edição impressa, de hoje, do Público dá nota que Mugabe já fez saber que virá a Lisboa.
O Primeiro-Ministro britânico faz bem em não vir, caso Robert Mugabe venha a Portugal. Se esse facínora aterrar em Lisboa é uma vergonha e uma afronta a todos os portugueses que se batem por valores. E o mais grave é que essa afronta é feita pelo governo de Portugal, o que torna o caso ainda mais arrepiante.
Comparando o tratramento que este mesmo governo dispensou ao Dalai Lama, um Homem de Paz, e o que se prepara para oferecer a um assassino, diz muito do carácter daqueles que nos governam e que aparentemente Cavaco Silva também não está imune.
Quando observo toda esta situação a que Portugal, pela mão do governo de Sócrates, se presta perante a opinião pública internacional, aquela a quem os valores do que é ser humano ainda dizem alguma coisa, e comparo com aqueles que por cá se indignaram com o murro que Scolari aplicou no jogador sérvio, dizendo que esse acto tinha envergonhado Portugal pelo mundo fora, poderia dar vontade de rir. Mas não. Como português dá-me vontade de chorar de raiva, porque a letargia em que estamos mergulhados, faz com que não nos atendemos ao essencial, àquilo que verdadeiramente importa lutar e combater.
Triste país que povo transportas e do qual saíram dirigentes tão miseráveis.

14 de setembro de 2007

O valor da vida

Bastou um murro de Scolari para o caso McCann passar para segundo plano na comunicação social.
O episódio revela, se dúvidas houvessem, que o mundo do futebol tem mais peso na sociedade mediatizada que a perda de vidas humanas.
O caso que esta semana ocorreu em Viseu: uma mãe que mata os seus dois filhos e em seguida se suicida, deveria, numa sociedade portadora de valores morais e humanos, estar a ser debatido e analisado por todos nós. Não este caso concreto, mas o que pode levar uma pessoa a cometer um acto destes. Porque quando um ser humano está em sofrimento e lança avisos, que não são mais do que pedidos de ajuda, nós preferimos ignorar e olhar para o lado.
Para o fútil, o efémero.
Para o murro de Scolari, por exemplo.

13 de setembro de 2007

Obrigado Scolari

Os portugueses são muito sui generis. Luiz Felipe Scolari, treinador da selecção nacional, foi até ao momento, de longe, o melhor treinador que a equipa das quinas alguma vez teve. Os sucessos falam por si. Hoje a equipa portuguesa é temida por todos, graças a ele.

Basta um momento menos bom, que todos nós cometemos, mas que a força da televisão potencia a níveis desgraçadamente escandalosos, para que os bem pensantes venham exigir a demissão do homem.

Na verdade somos - seremos sempre - pobres e mal agradecidos. Gostaria de saber se aqueles que hoje "ladraram" na comunicação social a pedir a cabeça de Scolari, quando se vêm a si próprios, ou familiares seus, envolvidos em cenas de pugilato ou pior: cometendo crimes, tratam logo de se auto expulsarem, ou de mostrar a porta, da casa de família.

Na verdade não há pachorra para tantas públicas virtudes e piores vícios privados.

Scolari já reconheceu que errou, que perdeu a cabeça, o que mostra que ele é um homem normal, como a grande maioria dos restantes homens.

Eu jamais lhe lançaria alguma pedra. Detesto, abomino, pessoas que à primeira dificuldade de alguém, esquecem o prato onde comeram.

Aconteça o que acontecer no futuro ao homem, direi sempre: "Obrigado Scolari".

11 de setembro de 2007

Política reles

Portugal vai receber amanhã um Homem de Paz, o Dalai Lama, pela porta dos fundos, mas em contrapartida, o Governo e o Presidente da República estão a envidar todos os esforços para, em Dezembro próximo, receberem um facínora, Robert Mugabe, Presidente do Zimbabué, pela porta principal, com direito a tapete vermelho, para dar com a cor dos crimes que ele comete e instiga.

A mente humana: a última fronteira

O casal McCann, independentemente de ser culpado, ou não - acredito cada vez mais que sim, e num grau que ultrapassa qualquer racionalidade - contribuiu com todo o "espectáculo" que montou à volta do "desaparecimento" da sua filha, para aniquilar definitivamente a confiança na espécie humana.
Quero dar os parabéns ao Arrebenta do blogue As Vicentinas de Braganza, a primeira pessoa no mundo a dizer publicamente, imediatamente após o caso ter sido divulgado, que os McCann eram altamente suspeitos e que eram gente que não prestava, não só pelo seu comportamento e acção, mas também pelas ligações estreitas com o governo britânico, com a imprensa inglesa e com gente influente na sociedade britânica. Só assim se explica o acesso aos governos dos países por onde andaram e que culminou com a imagem pública absolutamente patética e chocante deles com o Papa, na Praça de S. Pedro, à luz dos acontecimentos presentes.
O Correio da Manhã transcreve, na sua edição de hoje, os seguintes comentários produzidos por alguns habitantes de Rothley, localidade inglesa onde vivem actualmente os McCann:
"Caroline não acredita nem deixa de acreditar na morte "horrível" de Maddie, o que a choca são "os privilégios de uma gente acima de qualquer critica". Prioridade de um primeiro-ministro acabado de chegar, "uma imprensa cega, assessores de imagem e honras quase de Estado" em todo o lado. "Não comento suspeitas da polícia portuguesa mas respeito-as, é bem diferente, diz Paul Arche. E Kate e Gerry "são pessoas comuns, tratem-nos como tal e deixem os portugueses trabalhar - que interesse teria a polícia?"
Os ingleses comuns, aqueles a quem a vida não lhes dá privilégios, começam a acordar da hipnose. Por cá também acordámos violentamente para a maldade que o ser humano pode cometer. E essa maldade é tanto maior, quanto mais ela é praticada sob a capa da bondade, do altruísmo e da beneficiência e apoiando-se em causas, essas sim, dignas do maior empenho de todos nós. Tanto em Portugal como no Reino Unido, há gente que se recusa a "acordar" porque a realidade a confirmar-se é de uma violência que ninguém está preparado para enfrentar e preferem voltar a "adormecer".
Aconteça o que acontecer, mesmo que o casal McCann consiga provar a sua inocência, eles não são definitivamente pessoas normais.
Nota: Alguns dos acusados do caso Casa Pia também tentaram empreender manobras do "tipo McCann", mas como em Portugal é tudo feito em cima do joelho não se deram tão bem como a Kate e o Gerry, embora para outros implicados no processo Casa Pia, mas não acusados, as manobras surtiram efeito.

7 de setembro de 2007

Querida RTP

A RTP ontem no Telejornal, emitiu uma reportagem do debate realizado no parlamento, a pedido do PSD, sobre a insegurança que se vem registando no país. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, foi chamado e quando confrontado com o assalto ontem realizado em Viana do Castelo, a "nossa" RTP mostrou um ministro a dizer que: "estamos serenos, mas não impávidos, e que [ele] estava do lado das forças de segurança".
A RTP, mais uma vez ao serviço do governo, omitiu o que o ministro tinha afirmado ali mesmo no parlamento: "que os assaltantes de Viana do Castelo tinham sido todos capturados".
Como o ministro foi mal informado, a RTP tratou de censurar essas afirmações, por forma a que o ministro Rui Pereira e o governo, não ficassem mal vistos perante os portugueses.
Mas felizmente temos mais estações de televisão. A SIC e a TVI mostraram ontem nos seus jornais das 20.00 horas as afirmações do ministro.
Como a RTP se viu desmascarada, não é que hoje nas notícias do "Bom Dia Portugal" das 7.00 da manhã é transmitida a reportagem na íntegra já com as afirmações do ministro, que tinham sido cortadas na véspera.
Como às 7.00 da manhã a população que está a ver televisão é infinitamente menor do que às 20.00 horas, aí temos o serviço público de televisão a funcionar em pleno a favor do governo.
Será que só o Poviléu é que deu pela tramóia? A Entidade Reguladora para a Comunicação Social está cega e surda?
Se quiserem confirmar, vejam na página da RTP a emissão do Telejornal de ontem (1.ª parte: minutos 16 a 18).

6 de setembro de 2007

Racismo encapotado

O jornal Público, edição impressa de ontem, numa coluna assinada por Isabel Arriaga e Cunha, de Bruxelas, dizia que a "Comissão Europeia sugere que Mugabe não esteja na cimeira com África".
No desenvolvimento da notícia, e segundo a comissária responsável pelas relações externas da União Europeia, Benita Ferrero-Waldner, para que a cimeira Europa-África se realize, em vez de estar presente o presidente do Zimbabué, este país seria representado, por exemplo, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Cavaco Silva, em visita a Estrasburgo, também afirmou que teria que se arranjar uma forma de ultrapassar o impasse em virtude de a presença de Robert Mugabe em Lisboa não ser bem vista por alguns países da União Europeia, nomeadamente o Reino Unido. A presença do presidente facínora do Zimbabué em Portugal, aparentemente, não causa quaisquer problemas aos nossos governantes nacionais. O problema são os outros que se recusam a vir a Lisboa sentar-se à mesma mesma com esse criminoso. Portugal, não se opõe a conviver com esse tipo de gente. Há muito que estamos habituados a isso.
Mas para quem nao saiba o que se passa verdadeiramente no Zimbabué, e se guie unicamente através das notícias dos jornais nacionais fica com uma visão racista do problema. Já o Daniel Oliveira no Expresso foi por esse caminho.
A jornalista do Público termina a notícia com esta tirada de bom jornalismo:
"O impasse sobre a participação do Zimbabué impede há vários anos a realização da cimeira, para grande frustração dos sucessivos governos portugueses. [...] o Governo britânico recusa sentar-se à mesma mesa que Mugabe, acusado de graves violações dos direitos humanos, sobretudo contra cidadãos britânicos residentes no país."
Isto é mentira da mais reles que alguém, sendo jornalista, poderia alguma vez dizer. Que o Reino Unido se recusasse vir à presença de Robert Mugabe a Lisboa, com base exclusivamente nos crimes perpetrados contra os seus cidadãos no Zimbabué, é uma opção política, que embora seja de aplaudir - assim outros governos defendessem os seus cidadãos residentes noutros países - é redutora. Os crimes de Mugabe contra cidadãos britânicos residentes no Zimbabué constituem uma ínfima parte. A grande maioria dos crimes, e os mais horríveis, são cometidos contra os zimbabuanos de raça negra.
Há uma intoxicação daqueles que se dizem não racistas para fazer crer que o Reino Unido só não quer vir a Lisboa porque há brancos atingidos pelas atrocidades de Mugabe.
Então e aqueles que não são do Reino Unido, que não têm interesses no Zimbabué, que são negros e também desejam que Mugabe não venha a Lisboa, movimentam-se porquê?
Quem lê a notícia do Público fica com a ideia que Robert Mugabe tem praticado crimes é contra britânicos, ou seja contra brancos, e que a população negra está óptima e recomenda-se.
Sim, a isto eu chamo: "jornalismo de sarjeta".

4 de setembro de 2007

Portugal simplex

O governo de José Sócrates quer que os cidadãos não se furtem às suas obrigações para com o Estado e a sociedade. E vai daí, lançou mão de uma série de legislação por forma a que todos nós sejamos controlados, fiscalizados, sujeitos a cruzamentos de todos os actos administrativos, etc., etc.
Não pondo em causa a inevitabilidade de algumas medidas, pois estávamos a caminhar alegremente para o abismo e o descalabro, acabou por "pagar o justo, pelo pecador". Os excessos pagam-se sempre caro e os que já cumpriam acabam sempre por ser aqueles que pagam a dobrar.
Este desabafo vem a propósito de: se por um lado o governo quer ter mão no cidadão comum, por outro lado assiste-se a que, o mesmo governo não investe o que deveria para o país se proteger da grande criminalidade e não servir de santuário e refúgio para se cometerem crimes, que têm como último objectivo lançar ataques terrorristas noutros países: veja-se o caso da ETA em relação a Espanha e a Frente de Libertação Nacional da Córsega em relação a França.
Pergunta-se: será que o governo já se questionou por que motivo estas organizações terrorristas escolhem Portugal, e não outro país, para estas acções criminosas? Deveria preocupar-se seriamente, é que está em causa, para além da imagem externa do país, numa época em que se vive de imagens e de sound bytes, a credibilidade da justiça e dos serviços de informação e segurança de Portugal.
O nosso atavismo secular foi, e é, o de nos preocuparmos sempre com o telhado sem atendermos às fundações. Não há edifício que resista.