5 de julho de 2007

Ao que isto chegou

Dois casos envolvendo professores com doenças graves, a quem foram recusadas as respectivas reformas por invalidez, já não estão cá para nos explicarem o que sofreram às mãos do Estado. Morreram.

Havia entre nós o respeito pela memória dos mortos. Pela morte todos nos salvávamos. E quantos de nós, depois da morte de um ente querido, um conhecido, uma figura pública, não ficámos arrependidos e a pensar se alguma das nossas atitudes e pensamentos não foram injustos para com essa pessoa? Fazemos aquilo que se chama, a introspecção, o julgamento e  a condenação, ou não, do nosso eu. E, na maioria das vezes, mesmo para com aqueles a quem amámos muito e que demos, ou julgámos que demos, o nosso melhor, encontramos sempre algo, por mais pequeno que seja, que nos arrependemos  e nos culpamos por não termos agido noutro sentido. Pedimos desculpa a nós próprios e o processo de luto segue o seu curso normal.

Este comportamento, por maioria de razão, deveria ser seguido por quem exerce cargos públicos nos diferentes sectores da vida pública, mas principalmente por aqueles que exercem cargos políticos. Nos regimes democráticos os ministros devem transportar consigo um código ético e moral  por forma a fazer uso dele sempre, e a brandi-lo em situações graves, mesmo perante casos em que a acção ou omissão dos seus subordinados se revele desastrosa e  de que resulte dano grave para o bem público e para a vida dos cidadãos. E então se dessas acções, directa ou indirectamente, resultar morte, por maioria de razão, um ministro deve chegar à frente e dizer presente.

Isso, felizmente, já aconteceu com um ministro. De seu nome: Jorge Coelho. Um homem de, e com, carácter. Com formação e sentido do dever público. Era ministro da Administração Interna, do governo de António Guterres. Curiosamente do PS. A queda da ponte de Entre-os-Rios em Março de 2002,  que provocou 59 vítimas mortais, levou a que o ministro Jorge Coelho apresentasse imediatamente a sua demissão. E, todavia, ele não tinha deitado a ponte abaixo. Outros tempos, outros homens, outros códigos. Outro governo. Outro PS.

Tenho vergonha que Portugal tenha ministros desta envergadura moral e cívica, que nos fazem ranger os dentes, para controlar a raiva, as lágrimas. As suas atitudes, ou falta delas, leva-nos a um estado de prostração que chega a doer.

A Ministra da Educação,  Maria de Lurdes Rodrigues, lamenta, mas não é culpada. Para ela a Caixa Geral de Aposentações, que realizou as juntas médicas, é que é culpada, logo o seu colega das Finanças que se justifique. Vem o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, dizer que não, que a sua colega atirou ao lado: ele também não se sente culpado. Para ele os culpados são os médicos dos hospitais, a quem foram solicitados os relatórios clínicos que serviram para a Caixa Geral de Aposentações indeferir a passagem à reforma daqueles desgraçados, logo o seu colega, mais um, Ministro da Saúde é que é o verdadeiro culpado. A todo o momento espera-se que Correia de Campos venha dizer de sua justiça. A avaliar pelas suas afirmações relativamente ao caso da exoneração da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, já sabemos a resposta.

Quem morreu,  não morresse.

Os verdadeiros culpados somos nós, porque pactuamos com isto tudo.

1 comentário:

eu que te amei disse...

Em silêncio, muitas vezes interrogo-me sobre o mistério da criação, mas a reflexão paira sempre sobre as razões da morte e do caminho que percorremos até ela. Perdi alguém que era muito especial para mim. Sinto-me vazia e não sei bem ainda como continuar. Procuro explicações, procuro na net pessoas que passam por momentos como estes, procuro palavras, procuro... nem sei bem o que procuro
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