30 de maio de 2009

Pela Europa, voto em branco

O que define um europeu quando sai da Europa? Falo por mim. Sei que o mundo é um só, mas que perante o que se me apresenta à minha frente, sinto que está longe daquilo com que eu me identifico. Isto não implica estar certo ou errado, concordar ou discordar, tão só identificar.

Sou a favor dos Estados Unidos da Europa, da Europa dos povos. A federação que acredito e aceito terá que ser emanada a desejo dos povos, nunca, como alguns teimam, construída contra os povos.

A classe política usa e abusa do conceito “Europa” numa perspectiva de partir e repartir os vários poderes em jogo: político, económico, financeiro, com muito pouco de social e nada de cultural.

Nasci português. Calhou. Sinto e sofro pelo meu país. Simplesmente está entranhado em mim.

Claro que sofro e sinto mais por Portugal do que por Espanha, por exemplo. Mas quando visito a Europa, sinto também que aquilo me pertence de alguma forma: a história, a cultura, aquelas gentes nunca as tendo visto são-me familiares nos gestos do seu quotidiano.

Aquando dos atentados terroristas do 11 de Setembro em Nova Iorque aquilo deitou-me abaixo, revoltou-me, senti que estilhaços me atingiram. No entanto, com os atentados terroristas de Madrid, primeiro, e Londres, depois, o impacto e a revolta atingiram-me a carne e o espírito. Algo de meu foi atacado.

Se Bruxelas em vez de dar milhões e milhões de euros a uns poucos, que são sempre os mesmos, se incentivasse e subsidiasse o contacto directo de cada um dos europeus com os seus pares de outros estados membros, integrando a história e a cultura que temos em comum, visitando-se mutuamente, o espírito e o valor de se ser europeu, acredito, aumentaria em flecha.

O que vejo são os políticos de agora, cada um à sua maneira, a destruir o sentido de se ser europeu, a trair os objectivos dos seus fundadores e contrariando a vontade dos povos europeus, que não se revê nos caminhos que eles querem que nós sigamos. Por este andar a Europa mais tarde ou mais cedo abrirá brechas profundas que levarão ao seu desmantelamento.

Está em cada um de nós europeus evitar isso e tomar-mos o futuro da Europa nas nossas mãos.

Eu sou por uma Europa federal em que cada estado tenha o grau de autonomia que entenda, sabendo que vota para um presidente europeu e um governo europeu federal.

O que mata o desejo de federalização de muitos é que ninguém se assume federalista, mas vão federalizando à revelia dos povos e contra eles.

Porque a federalização não é assumida por ninguém, porque não apresentam um modelo de federalização aos povos, mas vão federalizando à socapa, eu no próximo dia 7 de Junho voto em branco.

Gosto e identifico-me com a Europa e desejava que no futuro as gerações se sentissem europeias de corpo inteiro, da mesma forma como hoje ninguém nascido em Portugal defende que voltemos a ser árabes, só porque o fomos no passado.

Dirão que isto é fantasioso demais. Será? Os Estados Unidos da América têm pouco mais de 200 anos de idade, ainda hoje são muito ciosos dos seus estados, veja-se o grau de autonomia. Aliás, alguns dos estados têm um grau de autonomia, dentro da federação americana, muito superior aos estados que fazem parte da União Europeia, não sendo federal.

Há coisas simples que me fazem sentir europeu, tal como um americano nos Estados Unidos da América: quando um português se destaca em qualquer campo do conhecimento por oposição aos seus pares europeus fico muito orgulhoso, no entanto se um europeu se destaca num campo em que estão americanos, asiáticos, sul-americanos, fico também deveras orgulhoso.

Sei que há por aí alguns que gostam de ser modernaços e para eles o mundo é um só e são contra as de identificações ou competições. Isso para mim é que é utópico, a menos que entretanto tomemos contacto com uma civilização extra-terrestre.

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