21 de junho de 2007

Ambivalências


Diz-se que 80% dos médicos dos serviços de obstetrícia dos hospitais públicos são objectores de consciência, logo não se pode contar com eles para cumprir a lei da interrupção voluntária da gravidez. Lei aprovada em referendo por 59,25% dos votantes.
Estamos perante um facto preocupante: o número de médicos obstetras, a trabalhar nos hospitais públicos, objectores de consciência, não reflecte os valores do referendo. Das duas uma: ou a classe dos obstretas a exercer funções no serviço público são de um apego à vida, esperamos que durante toda a vida, para lá da biologia, desde a concepção até à morte, de todos aqueles que devem servir, e isso é de louvar e enaltecer, ou então, há aproveitamento do facto de poderem exercer o direito de objecção de consciência para subverter a vontade da grande maioria do povo português expressa nas urnas, e exercer uma crítica a todos nós, especialmente às mulheres. Em democracia deve-se respeitar a vontade da maioria, independentemente do grupo social e profissional a que se pertence.
Para haver um grupo profissional, específico, de cidadãos, a execer funções públicas, que reprova a lei da interrupção voluntária da gravidez em 80%, devem, forçosamente, existir outros grupos profissionais que aprovam a lei na ordem dos quase 100%, senão como é que se obteve os valores registados em sede de referendo? Ou será que se vota num sentido e pratica-se noutro?

1 comentário:

José Ferrão disse...

Acho que o raciocínio está perfeitamente viciado, porque se fôssemos por aí também poderíamos estar a estranhar que andam a nascer mais bébés do que os abortos que se andam a praticar, portanto toca de começar uma caça às bruxas (digo, às mães) que andam a dar um pontapé na democracia preferindo parir do que abortar.
É que nisto da democracia, ou há democracia... ou comem todos!

Mas que estejam os mais desprevenidos descansados, que ainda haveremos de chegar à democracia total e completa: para já, começa-se por estender à IVG a isenção das taxas moderadoras que já existia para as grávidas; num futuro que estará mais radioso do que distante, retira-se "democráticamente" essa isenção dos blocos de parto, até que se alcance a estatística dos 2 partos para cada 3 abortos (a mesma estatística do iluminado referendo), e numa fase final transforma-se as maternidades que ainda restam em bancos de abortos, remetendo os partos para os vãos de escada, com direito a julgamento para apurar se aquela mãe já terá ultrapassado a taxa democrática dos três abortos por cada dois nascimentos.