13 de julho de 2007

Jornalismo de vanguarda

O semanário Tal & Qual na sua edição impressa, já que não existe outra!?, de hoje, refere o caso da queixa-crime apresentada pelo Primeiro-Ministro, José Sócrates, contra o autor do blogue Do Portugal Profundo, António Balbino Caldeira.

A jornalista Tânia Reis Alves, autora do texto da notícia, mistura factos, deturpa outros e revela desconhecimento em relação ao blogue em causa.

A um autor de um blogue que não seja jornalista desculpava-se as inexactidões da notícia, agora a um jornalista profissional, que deveria ter trabalhado a notícia, já é mais difícil de desculpar.

Tânia Reis Alves socorre-se de alguns correspondentes de órgãos de comunicação social estrangeiros, a exercer actividade em Portugal, para se informar se haverá mais algum caso similiar no mundo, que envolva queixas-crime de políticos contra autores de blogues. Dizem-lhe que não têm conhecimento. Mas existe.

O Poviléu também incorreu nesse falso juízo, mas aqui não há jornalistas e a informação é produzida na hora, nos tempos livres e sem recurso a fontes primárias, a maioria das vezes. No entanto, assim que se confirmou o lapso procedeu-se imediatamente à sua rectificação e, neste caso específico com recurso a fontes primárias.

Na verdade, pelo menos mais um caso envolvendo políticos e autores de blogues é notícia. Na Alemanha, está a decorrer um processo judicial que opõe o Ministro do Ambiente, Sigmar Gabriel, ao autor do blogue Mein Parteibuch, Marcel Bartels, a que já nos referimos num texto anterior.

No entanto se no início do texto da notícia a jornalista se refere a políticos em geral, na parte final, e referindo-se aos comentários que obteve de alguns correspondentes, nomeadamente de João Carlos, da agência alemã Deutsche Welle, já  concretiza a nível de primeiros-ministros, e nesse caso: sim. É verdade que a atitude de José Sócrates, como Primeiro-Ministro, não tem paralelo, o que, infelizmente, revela muito do homem e do político.

Com o outro caso a decorrer na Alemanha e perante a informação que a jornalista nos dá da resposta obtida do correspondente da agência alemã, ficamos também com a impressão que ele desconhece algumas realidades desse país.

Como tudo indica, a jornalista do Tal & Qual não obteve informações directas de António Balbino Caldeira, do blogue Do Portugal Profundo, e então começa a fazer deduções empíricas que não se traduzem em realidade. Diz, por exemplo, que o número de visitantes do blogue "de há uma semana para cá... passou de cerca de 300 000 para 700 000"!!!

Só demonstra que nem se deu ao trabalho de verificar que o blogue está à beira de completar dois anos de existência e que embora o caso "José Sócrates versus António Balbino Caldeira" tenha aumentado, e muito, o número de visitas, o blogue quando o caso rebentou já tinha cerca de 500 000 visitas. A jornalista quer fazer crer que para um blogue com quase dois anos de existência, o número de visitas não era nada de extraordinário (300 000) e no espaço de uma semana ganhou mais 400 000 visitas, um aumento de 133%.

No meio desta redacção há uma pérola, que, segundo Tânia Reis Alves, foi produzida pelo argelino Rabah Izri, correspondente em Portugal do jornal Elwaton e da Rádio Canal 2: "O primeiro-ministro tem o direito de processar quem quiser e um blogue é um meio de comunicação como outro qualquer." Se quanto à primeira parte da declaração nada a opor, quanto à segunda parte da afirmação não sei onde é que ele se baseia para dizer isso, em que factos se apoia. Será que na Argélia, a liberdade de expressão já vai aí? Olhe que no chamado "Mundo Livre" os blogues só são considerados órgãos de comunicação no capítulo da repressão, quanto ao capítulo dos direitos e garantias é matéria que só se aplica "aos outros".

Este é algum do jornalismo que se faz em Portugal e nas democracias avançadas do "Mundo Livre".

6 comentários:

António Balbino Caldeira disse...

Caro Paulo

Muito obrigado pelo seu post e solidariedade constante. A jornalista telefonou-me mas eu disse-lhe que não prestava qualquer declaração - nem sequwer ainda li o jornal.

Erros e imprecisões dos media é algo a que já me habituei. Se for o caso, é apenas mais um de uma longa série.

O Tal & Qual tem ua responsabilade maior do que os outros porque lucrou com a divulgação do que constava no meu blogue sobre o processo da Casa Pia e serviu para, depois, me ser aberto um processo de que fui absolvido.

Arrebenta disse...

Já estamos "on-line" no http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/ :-)

Anónimo disse...

"O primeiro-ministro tem o direito de processar quem quiser..."
Não sei
"O primeiro-ministro, como qualquer outro cidadão, tem o direito de processar quem quiser..."
Gosto mais assim.
Carlos

Paulo Carvalho disse...

Caro Carlos

Estou inteiramente de acordo consigo quando diz: " O primeiro-ministro, como qualquer cidadão, tem o direito de processar quem quiser".

No entanto tenho acrescentar o que já disse num post anterior: "Os políticos, também são homens, também têm o direito de recorrer à justiça se se sentem difamados ou injuriados. Mas sabem, ou deveriam saber, que são homens públicos e que todas as suas acções têm uma leitura diferente das dos restantes concidadãos. A sua acção política e cívica é vista como um sinal, interpretada não como cidadão, mas como homem político de que se encontra investido. Logo passível de ser seguida e copiada pelos demais homens públicos."

Anónimo disse...

bom post.
acontece é que em portugal os jornalistas fazem noticias em cima do joelho.
Escrevinham umas coisas e a coisa passa.
Como grande parte dos leitores são ignorantes , só poucos notam o erro.
E os que o notam não se conseguem fazer conhecer.
Não temos a cultura do rigor.

Anónimo disse...

Olá!
Não sei se terá percebido correctamente o que escrevi na minha notícia.
Em momento algum eu disse que não existia no mundo nenhum político ou 1ºMinistro que além de José Sócrates tivesse processado um blogue. O que me propus fazer (e fiz) foi perguntar a alguns correspondentes estrangeiros em Portugal se tinham ou não conhecimento de um caso semelhante. Se leu bem a notícia percebeu que eles não tinham conhecimento.
Relativamente à declaração que "segundo Tânia Reis Alves" foi produzida por Rabat Izri esta é, de facto, da autoria deste jornalista. Como compreenderá não sou eu a responsável pelo seu conteúdo.
Julgo também já estar esclarecido acerca do facto de eu não ter contactado António Balbino Caldeira. É que eu contactei.
Disponha,
Tânia Reis Alves