4 de julho de 2007

Elogio fúnebre

Há mortes e mortes. Há mortes que são uma bênção de vida. E, depois, há aquelas mortes que nos amputam um pouco da nossa vida. Essas deixam marcas.

Vem isto a propósito da morte inesperada de um companheiro nosso. Não, não é morte física. É de espírito. Falo da morte de um blogue. Ora dirão vocês: "Nascimentos e mortes de blogues acontecem todos os dias às centenas, aos milhares". Pois acontecem. Mas se na hora do nascimento somos todos iguais, já o nosso percurso de vida determina se, a nossa morte é desejada, ou se, pelo contrário, é algo que empurramos para a frente, até ao limite.

Não sei se a morte foi desejada. Se a sua vida foi levada até ao limite do possível. O certo é que morreu. O blogue Braganza Mothers foi desta para melhor. Segunda-feira passada. "Eram, mais coisa, menos coisa, duas horas e meia da manhã, do dia dois de Julho do Ano da Graça de Dois Mil e Sete".

Foi daquelas mortes que me chocou. Como leitor, falo por mim.

O dono, o autor, o administrador, o que quer que lhe chamem, Arrebenta, resolveu, num arrebate de consciência desligar o blogue.

Ao que parece alguém se infiltrou no blogue e, segundo Arrebenta, essa pessoa preparava-se para sabotar os textos do blogue. Logo: "para grandes males, grandes remédios".

Só há cerca de dois meses cheguei ao Braganza Mothers e, confesso, ao primeiro contacto fiquei siderado. Por tudo. Nunca tinha visto nada assim em Portugal. Não que eu aprovasse tudo o que por lá se escrevia. Mas, há que reconhecer, no Braganza Mothers escreveram-se os melhores textos sarcásticos dos últimos anos em Portugal. Liberdade no seu estado puro. Não confundir com libertinagem.

O blogue tinha uma imensidão de colaboradores a escrever. Uns com muito talento. Outros, nem tanto. Mas sempre com um espírito livre, que passava para o leitor. Arrebenta dizia que o Braganza Mothers era herdeiro das cantigas de escárnio e mal-dizer da Idade Média. Concordo com ele. Durante 18 meses (duração do blogue), Portugal foi posto a nú. Os Braganza incumbiram-se de despir o país das sua fatiotas luxuosas compradas na Zara e quejandos e, mostraram-nos que "por baixo" não tinhamos tomado banho.

O Braganza Mothers tinha uma legião de seguidores, mas na hora da sua morte desapareceram, esconderam-se. Fazem-me lembrar aqueles homens quando andam "metidos" com as vizinhas. Na presença delas fazem-lhe os maiores elogios, mas quando saem com a esposa, a verdadeira, a legítima, e a vizinha passa, dizem logo: "Estás a ver? Aquela gaja é uma grande puta. Gajas dessas não deviam morar no nosso prédio."

Imaginem que morria o Abrupto, ou o Causa Nossa, ou outros da mesma espécie. Já estou a ver a comunidade blogosférica portuguesa a carpir lágrimas de crocodilo. "Que a perda era irreparável. Que vai fazer falta. Que marcou a blogosfera. Blá, blá, blá."

Eu, que gostava, muito, de ler os Braganza, lamento a sua morte. Eles eram o Contra-Informação cá do sítio. No entanto: 1000 vezes melhor que o original.

Espero, desejo, que o espírito Braganza volte rapidamente. Refundado, com outro nome, com os mesmos, com outros. Como queiram. Desde que volte.

Um conselho, se me é permitido, para o Arrebenta: "Quando se convida muita gente para uma festa, ou se contratam seguranças, ou arriscamo-nos a que no fim da festa as pratas ganhem asas".

Rapaziada Braganza: Obrigado.

6 comentários:

Anónimo disse...

Concordo consigo. Eu que passava por lá todos os dias, por vezes mais que uma vez, sinto a falta. Parece até que era alguém que visitava a nossa casa, alguém com quem mantinhamos uma relação de cumplicidade e de conversa em liberdade, um pouco até com o prazer de fazê-lo às escondidas (que parece ser algo que se recomeça a cultivar). De repente, sumiu, deixou de aparecer. Fica-se angustiado, fica-se com uma sensação de perda...

Anónimo disse...

completamente de acordo.
Todos ficámos mais pobres, deixei de comprar jornais porque tinha o "Bragganza" aqui mesmo à mão, lembro-me assim ao acaso do texto sobre o duque de bragança e só por esse texto valia toda a sua vida que neste momento acabou.
arrebentou, pra felicidade da socretina e seus seguidores merdosos.

Nuno Raimundo disse...

Como membro do painel do "antigo-Braganzza" AGRADEÇO o tempos
que por lá passou e "perdeu" a ler os nosso textos.
Como dafirmou, o "Braganzza" era uma espécie de Contra-Informação cá do burgo. E tem toda a razão nisso...

A Qualidade dos posts era enorme, malgrao muitas vezes a "questão linguistíca" da mesma. Ma stambém quem frequentava o "Braganzza" não podia ter um "estomâgo" pequeno.
Uma coisa é certa, saía de lá sempre com sensação de satisfação plena...

abr...prof...

Anónimo disse...

Pois fiquem todos sabendo que era mais do que previsível que a coisa tinha de "arrebentar" assim, desta maneira, típica. E eu sei do que falo. Ó se sei. Ainda vocês todos nem sonhavam que iriam ser "estudados" e "angariados" de modo a participarem do projecto d'ELE, e já eu tinha sido co-fundador do mesmo e tinha batido com a porta a toda a pressa porque estava cheínho de miúfa. E ainda antes disso, já eu o tinha ajudado a fazer o The Great, esse sim, um blogue inesquecível. Vocês não percebem, não percebem, porque está mesmo em frente aos vossos olhos, e é tão óbvio que vos escapa a todos: Arrebenta. A palavra diz tudo.




PS- Se por acaso tu leres isto, calminha, tá bem? Continuas a ser o maior, o mestre. Não me venhas desassossegar que eu acho que não mereço e, como tu bem sabes, estou-me nas tintas para a notoriedade pública, caguei para o reconhecimento e caguei para os assuntos mundanos do país.

Bem pelo contrário, estou lá nos meus cantinhos muito sossegadito e entretido a compor as minhas odes para uma meia-dúzia de raparigas mais ou menos engraçadas. E só isso.

Abraço.

Miguel Drummond de Castro disse...

Foi o mais rabelaisiano dos blogs. Tenho mesmo pena do seu suicídio heróico. Levou o sentimento iconoclástico a um nível superior e inovou na arte de maldizer. E agora para que loja de porcelana irá o elefante escaqueirar as aparências?

Usando todos os palvarões da nossa robusta e vernácula língua nunca foi ordinário porque havia uma saúde na blasfémia, na intenção política. O ContraInformação ao pé dos Braganzza é coisa de bibe - anticorpos sistémicos, sem muita consequência, sem aquele impactante vitriólico dos bragannzas.

Bem façamos a festa. Il faut qu'on danse il faut qu'on s'amuse comme des fous. O Braganzza não foi em vão deixou umas belas fendas libertárias. Os seus escritores (excepto o Trojan Horse) vão certamente continuar. C'est la vie. As melhores coisas nunca duram muito. Mas outras virão.

No tears on board ships unfurling pirate flags!

(para renitentes à angla lingua, tradução: nada de choradeiras para quem navega com pavilhão pirata!

Anónimo disse...

Concordo plenamente com "um amigo": o nome "Arrebenta" já diz tudo. Arrebenta, na gíria urbana lisboeta, é um indivíduo que "engata" homossexuais para depois os espoliar).

Mas há outas questões:
É uma espécie de feiticeiro de Oz. Na realidade não passa de um velhote cheio de medo que precisou de um golpe de teatro e de umas tantas calúnias para salvar a pele...(alguém, segundo o Paulo Pedroso, chamou à atenção para o facto de o Braganza poder ser um alvo fácil de denúncia, por apresentar conteúdos potencialmente ilícitos).

Escreve bem, sim... E depois? Basta ter qualidades literárias? E as humanas? Não é verdade que muitos de nós procurávamos o Braganza como forma de obter a informação que não conseguíamos ter através dos meios de comunicação social? E se algumas daquelas coisas não passassem de boatos... E se muitas daquelas coisas não passassem de criações fantasiosas. Vejam a "milhentas" teorias à volta da Maddie. Que respeito tem ele demonstrado por uma criança desaparecida?
Nenhum.

O que muitos colaboradores perceberam foi que não passavam de meros instrumentos nas suas mãos.
Não é de estranhar o silêncio de tantos colaboradores? Ou alguém duvida que Biatraz Batida, Arrebenta, ... etc. não passam de heterónimos não literários da mesma personagem?

E os outros? O indefectível amigo, Paulo Pedroso? O Luikki, o João Gonçalves, etc... Os melhores. Porque não postam?