Há um tempo para nos rimos de nós próprios, da nossa miséria coletiva, que vai muito para além da economia e do social, e da nossa benevolência perante os crimes que os chamados poderosos cometem nas nossas barbas e que nós deixamos que eles escapem através de todas as manigâncias jurídicas, processuais, que eles próprios criaram e dos favores dos amigos colocados aqui e acolá, e há um tempo em que deveríamos parar de rir, sobretudo quando esses criminosos em vez de se calarem, vêm gozar connosco.
Isso ainda não tinha acontecido em Portugal, depois do 25 de Abril de 1974, em tão alta escala como agora, a propósito do caso Freeport, embora o caso Casa Pia não ande muito longe, e que serviu de ensaio, pelos vistos bem, para agora voltar à carga nos métodos, só que muito mais aperfeiçoados. Coisa de verdadeiros profissionais, dirão.
O ainda primeiro-ministro, José Sócrates, atingiu o limite da paciência a que um santo está obrigado. Ele confunde paciência infinita, com medo e receio. Um povo normal já o tinha posto no seu lugar, ou seja na rua. Depois, depois se veria se o seu lugar era na prisão ou remeter-se à sua vida mundana para todo o sempre, por respeito por si próprio, pela sua família e por todos nós.
Não, este homenzinho, ao ver-se acossado por todos os flancos, desata a processar tudo e todos com o único objetivo de intimidar todos aqueles que ainda têm voz e capacidade de mostrar a sua indignação pelo mal que ele está objetivamente a causar a um país velho, de oito séculos. Tenha vergonha e respeito.
Começou pelo autor do blogue Do Portugal Profundo, deu-se mal. Mas como esse processo não teve praticamente visibilidade nenhuma na opinião pública, porque António Balbino Caldeira é um cidadão comum, agora perante um caso ímpar em Portugal, em que um primeiro-ministro está indiciado junto da opinião pública num caso de corrupção, desata a processar jornalistas e órgãos de comunicação social.
O mais interessante é que o sujeito não escolheu o primeiro ao acaso, começou por um que escreve no Diário de Notícias - onde trabalha a sua companheira, namorada, segunda dama oficiosa, whatever, um dos vários anglicismos que a moça adora utilizar - e que até é um dos jornais que mais toma as suas dores. O aviso é o seguinte: “se eu comecei pelos da casa, nem sabem do que sou capaz aos que são de fora”.
A segunda dama oficiosa vem hoje, no jornal onde também trabalha, Diário de Notícias, precisamente, falar de pressões, e de impressões de pressões, a propósito do caso que envolve o seu companheiro, namorado, o que seja, mas que para nossa grande infelicidade, não dela, é quem ocupa, neste momento tão grave a todos os títulos, o cargo de primeiro-ministro deste pobre Portugal.
A dita moça, de nome Fernanda Câncio, é uma jornalista de causas ditas fraturantes, porque de costumes, que eu considero que fazem todo o sentido serem chamadas a debate público, outra coisa bem diversa é ela vir em defesa do seu mais que tudo. Além de lhe ficar mal no plano moral e ético, mancha irremediavelmente a sua carreira de jornalista e com isso faz com que nunca mais seja levada a sério em questões, que até devia ser.
Ela acredita que por falar num assunto que envolve o seu companheiro lhe dá independência, não dá, mesmo que a consciência dela lhe diga que sim. Uma coisa é ser, outra é parecer. A moça é destemida e naquela cabeça ela tem que afrontar tudo e todos e tomar-nos por parvos, tal como o seu companheiro e apaniguados políticos.
Está enganada. O tempo irá encarregar-se de lhe mostrar o quanto foi imprudente defender, no exercício da sua profissão, o seu querido.
Há erros que se pagam muito caro.
Os processos que José Sócrates ameaça meter a torto e a direito, é o que resta a uma pessoa encurralada, a quem todas as armas, que estavam ao seu alcance, se esgotaram, e agora só lhe resta a ameaça e a intimidação, que é a arma dos fracos.
Não há que ter medo de gente deste calibre. Há que enfrentá-los com as armas da verdade e da razão. E de uma vez por todas fazer-lhes pagar por tudo: política e criminalmente, se for caso disso.
Quanto à “amizade” que une Câncio e Sócrates, acho que estão muito bem um para o outro. O povo tem sempre um provérbio para estas situações: “Em vez de se estragar duas casas, estraga-se só uma”.
A sujeita a quem a TVI paga para semanalmente dizer umas baboseiras, vem na sua croniqueta de hoje cuspir no prato onde come, diz ela: “...o folhetim brega que dá pelo nome de Jornal Nacional” não cumpre as regras mais básicas do jornalismo no tratamento do caso Freeport. Veja-se a subtileza, não menciona o nome TVI, como se o dito Jornal Nacional não fosse feito na casa, por jornalistas da casa, com factos em posse da casa.
Se tivesse um pingo de vergonha na cara, e se condena a forma de jornalismo que por lá se faz, nunca deveria ter aceitado ir semanalmente ao canal, que não refere, dizer umas coisas. Mas o dinheiro. Ah, o dinheiro. O que não se faz em nome dele, e por causa dele.
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